Ao término da temporada 2020 eu não fiz a retrospectiva do ano, aquela que faço assim que o ano acaba ou então antes que inicie a próxima temporada, mas isso tem uma explicação plausível. O último jogo da temporada 2020 só foi disputado em 25 de fevereiro de 2021, e 3 dias depois era dado o início da temporada 2021.Isso aconteceu devido a pandemia que começou oficialmente no Brasil em março/20 e assolou o país (e o mundo) e assim sendo, os campeonatos ficaram paralisados por 4 meses, e quando foram retomados, foi jogo em cima de jogo.
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O melhor momento do time em anos, mas tudo foi por água abaixo em semanas |
Ainda pelo campeonato nacional de 2020, o São Paulo do então técnico Fernando Diniz, depois de passar por eliminações ao longo do ano, chegava na reta final na liderança do campeonato com incríveis 7 pontos de vantagem do vice. Distância essa nunca antes alcançada no campeonato. E na Copa do Brasil, o time estava na semi final. Ou seja, o ano tumultuado parecia que estava se encaminhando para um fim de jejum sem títulos para os tricolores, mas tudo mudou “de repente”.
Primeiro a eliminação na semi final da copa do Brasil, e na virada do ano, logo no primeiro jogo em 2021, um episódio apontado por muitos como o principal fator da derrocada do time. Numa partida em que o time foi goleado em Bragança, Diniz deu uma bronca em Tchê Tchê que foi captada pelas câmeras e microfones da TV. As palavras além de passarem do tom, colocou em xeque uma exposição ao atleta, e fez muita gente acreditar que ali foi o momento que o treinador perdeu o comando do time.
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| Palavrões, desrespeito e perda de comando |
Fato é que após esse episódio, o time não se encontrou mais, e venceu apenas 2 jogos dos 10 disputados até o fim do BR-20, e viu sua enorme vantagem sumir aos poucos, e da liderança o time terminou em 4º lugar, 5 atrás do campeão. Era o fim de 2020.
Como já foi dito, 3 dias após o fim da temporada 2020, o São Paulo iniciou seu 2021, mas a novidade agora era o treinador novo. A esperança de encerrar mais um ano sem títulos foi depositada no argentino Hernán Crespo. Depois de uma entrevista com 10 treinadores, o clube achou que a proposta do novato treinador seria a ideal. A principal missão já seria no paulistinha. Estadual esse que a diretoria fez questão de dizer ao público que seria “a copa do mundo” do São Paulo. E assim foi encarado pelo treinador.
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Crespo agradou e foi o primeiro treinador campeão em 9 anos. |
Num sistema tático que tanto fez sucesso em meados dos anos 2000, Crespo chegou ao clube num 3-5-2 clássico, e foi aos poucos conquistando o torcedor que vivia com medo das “saidinhas de bola” implantada por Fernando Diniz.
A chegada de Miranda, ídolo tricolor, fez o esquema ser ainda mais compreensível, ainda mais pelo elenco contar com Reinaldo e Daniel Alves nas alas. O time foi se portando bem e fazendo boas partidas no estadual e na libertadores, o que agradou a muita gente. Mas quando tudo caminhava bem veio uma nova onda de casos de COVID-19 na cidade e tudo foi paralisado por quase 30 dias.
Essa paralisação fez o treinador debruçar com sua comissão num novo planejamento e preparação para quando as partidas voltassem. Quando retornou, as partidas tinham um intervalo entre elas de 48h. Praticamente todos os dias havia jogo. Tempo de treinar era luxo, mas o planejamento foi surtindo efeito. Com um sistema de rodízio implantado, o tricolor chegou a ficar 14 jogos sem derrota após a retomada dos jogos. A única derrota veio as vésperas do 1º jogo da final do estadual, e ela chegou com críticas duras a comissão técnica. Crespo resolveu colocar em campo um time reserva, num jogo de libertadores em pleno Morumbi. Jogo esse inclusive que poderia dar a classificação para os mata-matas. Mas fiel as suas convicções e provando por A+B que o estadual era prioridade do clube, ele arriscou, e após vencer o paulistinha fez as desconfianças ficarem para trás.
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Festa após anos. A copa do mundo tricolor foi bem jogada e conquistada. |
A decisão do paulistinha foi em 2 jogos numa distância de 3 dias, e o adversário (Palmeiras) sofreu com a disposição dos tricolores. Os dois jogos tiveram superioridade do São Paulo, e muito disso tem a ver com forma como os clubes encaravam o campeonato, e por parte do tricolor, era o dedo do treinador que tratou de preparar e descansar seus atletas.
A taça foi levantada no Morumbi 9 anos depois do último título do clube. Para muitos, comemoração e fim de fila, mas para quem me acompanhou aqui, sabe que penso muito diferente.
O time mal teve tempo de comemorar pois 2 dias depois voltava a campo para garantir sua classificação na libertadores, o que foi alcançado, e 6 dias depois do caneco levantado já começava o nacional 2021, e a nova maratona começava a todo vapor. Contudo, os comandados do tricolor passavam a sentir todo o desgaste da intensidade e quantidade de partidas em tão pouco tempo. Sem contar os casos de COVID que iam afastando jogadores. E olha que nesse quesito, o São Paulo foi muito elogiado, pois soube tratar e cuidar de seus jogadores nesse momento.
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Muito DM e pouco futebol. Contratações duvidosas e que não agradaram. Benitez teve altos e baixos. |
Mas todo o esforço começava a cobrar seu preço, e a cada partida o São Paulo perdia um jogador por lesão. Na maior parte delas era muscular, e num determinado momento, a média de lesionados era superior a de partidas disputadas, e a essa altura a comissão e preparação técnica começavam a ser questionadas fortemente.
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O jogador mais pedido dos últimos anos, mas que dentro de campo pouco produziu. |
Dentro de campo os resultados não apareciam. Jogadores contratados e com poucos minutos jogados ao longo dos campeonatos passaram a ser cobrados. A torcida cobrava uma resposta técnica do seu elenco, que foi bastante modificado em relação ao ano anterior, porém, os contratados, em sua maioria não agradavam. Nomes como o volante William e o atacante Éder que já chegaram com idade avançada e com suas contratações questionadas, eram figuras carimbadas no departamento médico. Sem falar de Orejuela que foi contratado com cifras altíssimas, e que não dava resposta dentro de campo. Até mesmo os jogadores mais elogiados e que fizeram um bom paulista passaram por fases ruins e/ou lesionados. Os argentinos Rigoni e Benitez por exemplo, terminaram o ano em baixa. Benitez inclusive nem teve seu empréstimo renovado. No fim do mês de agosto ainda teve o retorno de outro argentino, e que era lembrado a cada janela de transferência. Trata-se de Calleri. Mas seu futebol que "encantou" alguns torcedores (carentes, diga-se de passagem) em 2016 estava distante, e suas partidas e gols forma muito "burocráticas".
Para contribuir com os maus resultados, os jogadores que já faziam parte do elenco no ano anterior seguiam numa fase muito ruim e sempre tinham seus nomes questionados. Pablo, Vitor Bueno, Igor Vinícius e Tiago Volpi eram os campeões de reclamações.
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Eliminações que balançaram o clube, e contribuiu para queda de Crespo. |
Em meio a tudo isso, o São Paulo acumulou inúmeros jogos sem vitória, chegando a ficar 10 rodadas para conhecer sua primeira vitória no brasileiro. Soma-se isso a eliminação para seu rival Palmeiras nas 4ªs da libertadores e a eliminação na copa do Brasil para o Fortaleza, e você terá ideia de como ficou conturbado o ambiente no clube. Sem contar que a cada rodada que passava do BR-21, mais próximo do Z4 o tricolor permanecia. Isso fez o presidente Júlio Casáres tomar providências, mas conhecendo o péssimo dirigente que é, suas medidas foram questionadas e criticadas com toda a razão. Crespo foi demitido, e 4 horas após o anúncio, Rogério Ceni já estava no gramado treinando o time. Evidente que isso não caiu bem para ninguém.
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| Samba da discórdia. |
Antes de chegarmos a reta final da retrospectiva, um capítulo merece destaque especial, e nele Daniel Alves é o personagem principal.
Desde sua chegada e apresentação para milhares de torcedores, o "camisa 10" dizia que ali estava um torcedor do clube em campo. Recordistas de títulos em sua carreira, tinha tudo para ser um casamento perfeito com o clube, mas as exigências feitas pelo atleta e que era conhecimento de todos antes mesmo da estreia, já me deixou muito ressabiado do que poderia ser essa passagem. Os meses e jogos foram passando e algumas atitudes do atleta fizeram a maioria dos são-paulinos ficarem muito irritados. Primeiro foi o episódio em 2020, quando quebrou o braço e ao invés de estar se resguardando ou até mesmo acompanhando seus companheiros, postou um vídeo fazendo um pagode e batucando seu TanTan. Enquanto ele tinha tal atitude, os jogadores do São Paulo perdiam uma partida no Equador pela libertadores e eram eliminados do torneio.
Dentro de campo o lateral que exigiu ser meio campo foi alternando muitos jogos bons com ruins, e curiosamente suas melhores apresentações foram na lateral...(SIC).
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Seu plano de ser ídolo correu pelo ralo. |
Na final do paulista, atuando como ala (Crespo não o escalava de meio campo), saiu antes mesmo da metade do primeiro tempo e sua lesão o tirou do segundo jogo da final, mas apareceu (merecidamente) na entrega do troféu junto com os demais atletas. Voltou de lesão após um mês fora, e uma semana antes do seu retorno, uma convocação seria o inicio do estopim para sua saída. Convocado para integrar a seleção olímpica num momento crucial do time, muito se acreditou que o jogador abriria mão para ajudar seu clube, mas o que se viu foi justamente o contrário. Sua decisão foi ir a Tóquio com o argumento que a medalha olímpica era seu maior sonho, e isso colocou tanto a diretoria como o torcedor contra o atleta. Daniel se viu no direito de ir pois o clube estava lhe devendo salários, o que não era novidade para ninguém, mas sua decisão incomodou muito, e suas declarações já em Tóquio pioraram a situação. O Jogador chegou a dizer que foi responsável de colocar o São Paulo de volta "ao mundo".
Todos esses estranhamentos deram fim a sua passagem pelo clube em setembro/21, 1 ano e 3 meses antes do término do contrato, mas com o acordo que o clube fez com o jogador (450 mil mensais por 5 anos) Daniel terá "vínculo" com o São Paulo até o fim da dívida.
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Poucas horas depois da demissão de Crespo, Rogério estava comandando seu treino, mas o treinador precisará de mais para reconquistar o torcedor. |
Engana-se quem achou que com Rogério Ceni no comando as coisas melhoraram. Com ele, os 13 jogos restantes continuaram com o torcedor aflito. Ele até conseguiu uma ou outra partida com melhor intensidade e bom futebol, porém o time seguia oscilando e perdendo jogos de forma vexatória. Inclusive chegou a ser goleado no morumbi por 4 a 0 contra seu ex time rubro negro. O time ainda sofreu para se afastar de vez da zona de rebaixamento. Somente a 2 rodadas do fim que a chance de rebaixamento foi afastada, terminando em 13º lugar e a 5 pontos do primeiro rebaixado.
A cada entrevista coletiva que o treinador dava, sempre em algum momento ele não deixava claro se permaneceria para 2022, e sempre que podia, dizia o quanto as coisas dentro do São Paulo estavam bagunçadas. Nessa linha, poucos dias depois do término do campeonato brasileiro, um áudio vazado de Muricy Ramalho, expunha o que ele pensava sobre sua permanência e de Rogério Ceni. Para o
coordenador, a forma como o presidente Casáres estava conduzindo o clube, dificilmente valeria a pena continuarem, pois poderiam manchar as glórias conquistadas.
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Seu áudio fez a direção se mexer, e garantir sua permanência e de Rogério. |
Não se sabe se a intenção do áudio era propositalmente ser vazada e causar um choque de realidade na gestão (teoria essa que eu duvido muito conhecendo a postura e integridade do Muricy) ou se foi apenas um desabafo que foi vazado traiçoeiramente. Fato é que causou uma reviravolta e além de ambos garantirem permanência no clube, a diretoria se mexeu bastante e até a presente data contratou 5 nomes e garante que 2022 será diferente da incógnita que passamos ano após ano.
No fim desse ano saberemos o que de fato aconteceu e eu volto aqui para relembrá-los. Até breve.
Rafa Malagodi