Quando pensei em fazer a retrospectiva do São Paulo 2019, cheguei a
cogitar em copiar qualquer uma das retrospectivas anteriores, pois os anos do
clube tem sido idênticos, muda-se muito pouco. Ah, mas infelizmente é uma
regularidade negativa.
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Hernanes chegou para ser a esperança, mas pouco contribuiu dentro de campo. (Foto: Rubens Chiri / São Paulo) |
Para entender mais um ano ruim, é preciso lembrar que ele começa a
ficar ruim, quando Jardine é efetivado como treinador lá no fim de 2018. Nada
contra o treinador, que parece ser promissor, mas não classificar para a fase
de grupos da libertadores deixou todos nós como uma pulga atrás da orelha. E
quando veio a tal Florida Cup, num momento fora de contexto, as coisas
pareceram ter ficado mais delicadas. O torneio preparatório nos deu a impressão
de atrapalhar o inicio do ano.
Já nos primeiros dias do ano, se sabia que Hernanes estaria de volta,
e sem dúvida, todos imaginaram aquele Hernanes salvador, de 2017, mas bastou os
primeiros jogos sem ritmo para o torcedor perceber que a China fez muito mal ao
profeta. Se não tivesse ido embora no fim do BR-17...
No primeiro jogo do ano, pelo paulistinha, levei minha filha Mariana
ao estádio pela primeira vez. 4 a 1 de virada em cima do Mirassol. Muita emoção
da minha parte, por ter vivenciado aquele momento, porém, mal eu sabia que
seria um dos únicos bons momentos do ano.
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Eliminações precoces e vexatórias... Dura rotina anual |
Como esperado, Jardine e seus comandados não conseguiam fazer uma
partida que desse ao menos esperança ao torcedor, e o primeiro vexame do ano
antes mesmo da metade de fevereiro. O tricolor pegou o pequeno Talleres, da
Argentina, e foi eliminado sob vaias. Aquele fim de BR-18 foi determinante.
Jardine deixava o comando do clube, e o ano do São Paulo seria mais uma vez uma
bagunça.
Mancini, então coordenador técnico, assumiu o time até a chegada de um
treinador efetivo. Até porque, como o mesmo disse, não veio ao clube para ser
treinador. Mas seu nome ainda será lembrado até o fim do ano...
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Pato chegou para amenizar o ambiente, mas sem futebol, terminou o ano no banco. (Foto:Reprodução/São Paulo FC) |
Sabendo de toda essa bagunça logo nos primeiros 4 meses de futebol,
Leco, se aproveitou mais uma vez da situação e anunciou Alexandre Pato, tentado
colocar panos quentes pela eliminação vergonhosa e o momento ruim do time.
Assim que foi contratado, fui totalmente contrário, pois não consigo
enxergar todo o futebol que boa parte dos torcedores tricolores enxergam em
Pato. Quando descobri o valor que foi (e será) pago, fiquei ainda mais
contrariado.
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Uma final após 16 anos. Classificação no Allianz foi muito comemorada. (Foto: Rummens) |
Pois bem, com Mancini o time entrou na fase decisiva do paulistinha jogando
defensivamente, e conseguiu chegar as finais com direito a eliminar o
Palmeiras, nos pênaltis, em pleno Allianz Parque. Contudo, Cuca, que havia sido
contratado logo após a queda de Jardine, mas que só assumiria depois de dois
meses, chegou ao clube na fase decisiva, e comandou o time na decisão do
estadual. Na final, contra o SCCP, o time até chegou perto do título, mas nos
minutos finais perdeu novamente, chegando ao seu sexto clássico sem vitórias.
Quando começa o Brasileiro, o time já tinha alguns novos nomes em seu
elenco. Pato, Tchê Tchê e Vitor Bueno eram alguns desses, e quase todos com o
aval de Cuca. A estreia diante do Botafogo marcou a presença mais uma vez de
Mariana. Agora, era a primeira vez no Morumbi.
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Inicio regular e elenco bastante modificado. Mas os resultados não traziam tanta expectativa. (Foto: Internet) |
O time começou o campeonato de forma regular. Foi ter sua primeira
derrota na 6ª rodada, e novamente um clássico diante dos SCCP. E antes mesmo do
fim de maio, o time sofria outra eliminação. Dessa vez o Bahia foi o algoz.
Curiosamente, fizemos 3 partidas contra o time baiano em 11 dias, e além de ser
derrotados nos dois jogos pela Copa do Brasil, o tricolor paulista não marcou
um gol sequer nesses três jogos. As primeiras cobranças contra o Cuca passaram
a surgir.
Notícias que não faziam parte do dia a dia do clube, passaram a ser
recorrentes, e a diretoria pouco se manifestava. Salários atrasados caíram como
uma bomba. Nem mesmo a liberação de altos salários como Diego Souza, Nenê,
Bruno Peres e Jucilei fizeram os gastos diminuírem, e a pressão no clube
aumentou ainda mais.
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Reunidos, grupo garante que direitos de imagem atrasados não atrapalharam o rendimento em campo. (Foto:Reprodução/São Paulo FC) |
Com a copa América, os campeonatos estariam parados por um mês, e a
tendência era o time treinar e se preparar mais. Eu mesmo cheguei a dizer que
essa parada seria excelente para o Cuca trabalhar melhor a equipe. Mas não foi
isso que aconteceu. O São Paulo necessitava de peças importantes para seguir no
campeonato e mais uma vez Leco e Raí não agiram como esperado. Todos cobravam
jogadores decisivos e que pudessem dividir as responsabilidades da equipe, que
estava toda em cima de Hernanes.
O tricolor foi ao mercado logo após a parada da copa América, e o nome
contratado causou um impacto enorme no futebol brasileiro. Tanto pelo nome,
como pelas cifras. Tratava-se de Daniel Alves, eleito o melhor jogador da
competição vencida pela seleção brasileira. Sua apresentação levou cerca de 40
mil torcedores ao Morumbi, e debaixo de muitos aplausos, o lateral que é são
paulino de coração, disse que viria para mudar o patamar do clube.
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Daniel muda patamar do time, e também a dívida. (Foto: Marcos Ribolli) |
No meu entendimento, pelo profissional e jogador que é, era a peça
fundamental para o time. Porém, a chave da questão é o valor do seu salário. Com
um valor mensal de 1,5 milhões de reais, o São Paulo arriscou muito alto.
O jogador que é lateral de origem, disse ao seu staff, que no São
Paulo gostaria de jogar de meio campo, inclusive recebeu das mãos de Kaká a
camisa 10. Concordando com sua “exigência”, a diretoria correu para anunciar
então um lateral direito, e o nome da vez foi o espanhol Juanfran, de 34 anos.
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Cuca não aguentou 6 meses. Treinador pediu demissão. (Foto: Antônio Cícero/Photopress) |
Voltando ao futebol, o time tinha apenas o campeonato nacional para se
preocupar. Muitos inclusive apostavam que o São Paulo era candidato ao título,
porém, o futebol apresentado rodada após rodada não convencia. Empates a
revelia e poucos gols marcados atormentavam qualquer torcedor. O São Paulo
chegou a gastar mais de 50 milhões de reais em atacantes, mas nem isso foi o
suficiente para tirar a marca negativa de “pior ataque” da história do clube.
Apenas 59 gols foram marcados ao longo do ano.
Cuca percebeu que não conseguia tirar nada mais desse elenco, e logo
no inicio do returno pediu demissão, alegando que sua saída poderia ser
benéfica ao time, uma vez que seu trabalho não surtia mais efeito.
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Mancini alega ser "traído" e expõe falta de comando da direção. (Foto: São Paulo/divulgação) |
Diniz foi contratado. Era mais uma bizarrice da diretoria, que pouco
respaldo dá aos seus treinadores, porém, essa teve um agravante. Vagner Mancini
voltaria a comandar o clube, mas dessa vez abandonaria de vez o seu cargo coordenador.
Mas não foi bem isso que aconteceu. Segundo o próprio, que chegou inclusive a
vazar um áudio, os jogadores pediram a direção do clube, que Diniz fosse o
escolhido. Encabeçados por Daniel Alves e Hernanes, a versão foi confirmada.
Mancini pediu demissão do clube, alegando que foi preterido, mas foi ele mesmo
que assumiu o cargo de coordenador dizendo que não seria treinador jamais. Esse
era mais um capítulo da falta de comando da direção do clube.
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Diniz chega a pedido dos jogadores, mas seu trabalho segue questionado. (Foto: São Paulo/divulgação) |
A desconfiança em torno do nome de Diniz era plausível, afinal, o treinador que tem um estilo ousado, não conseguiu sequer fazer um bom trabalho
para ter seu nome lembrado. O melhor do São Paulo até então era parte
defensiva. Tanto que o time terminou o ano como a defesa menos vazada. Tiago
Volpi e Bruno Alves eram os mais regulares do time. Entretanto, a parte
defensiva era justamente o calcanhar de Aquiles dos times de Diniz, e foi o que
aconteceu com tricolor, que passou a levar gols e mais gols. Já o ataque,
seguia a conta gotas...
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Muita grana investida, e pouca bola na rede. Pior ataque da história custou caro. |
Diante de tantos problemas internos e dentro de campo, o torcedor
passou a ficar cada vez mais irritado com o time. Se antes a expectativa do
time era de brigar pelo título, as rodadas finais serviram para provar o
contrário, tanto que, a vaga direta para a libertadores só chegou porque
Flamengo e Athlético conquistaram suas vagas por serem campeões da Libertadores
e Sulamericana, respectivamente. E a sexta colocação só foi garantida na
penúltima rodada.
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Protestos não poupou os principais nomes do time, mas poupou Leco. (Foto: Alexandre Guariglia/Lancepress) |
Tantos problemas assim renderam protestos por parte da torcida. E como
a principal organizada, age muitas vezes de forma política, quem deveria mesmo
ter seu nome criticado (Leco) não era mencionado, e erroneamente, Hernanes foi
alvo de xingamentos. Aqueles que o vaiaram, não devem ter memória boa, pois ele
foi o nosso herói dois anos antes, e por pior que tenha sido seu ano, não
mereceu em momento algum ser vaiado. Daniel Alves e Pato também forma alvo dos
protestos. Pato, mais do que merecido.
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Made in Cotia. A esperança da equipe pode estar dentro de casa. (Foto: Rubens Chiri) |
O melhor momento do São Paulo ao longo do ano, certamente veio direto
de Cotia. Dois nomes foram a surpresa para muita gente. Primeiro Antony, que
chegou a fazer até gol na final do paulistinha. O atacante é canhoto e
habilidoso. Curiosamente, seu futebol caiu de rendimento quando passou a ter
seu nome bastante mencionado. Recuperou o bom futebol e terminou o ano sendo
sondado por diversos clubes europeus.
O segundo jogador é um meia, Igor Gomes. Assim como Antony, foi
protagonista no título da copa São Paulo de Júnior, e teve sua chance entre os
profissionais. Seu bom momento na equipe chegou justamente quando Hernanes não
estava rendendo, e o jovem fez boas partidas, a ponto da torcida pedir pela sua
titularidade.
No fim das contas, o ano de 2019 foi muito parecido com tantos outros
anos ruins que tivemos recentemente. Num alista de prós e contras, os contras
ganham de goleada dos prós. Uma pena que parte da torcida do São Paulo não
consegue enxergar isso. Não é por que nomes como Pablo, Hernanes, Pato e Daniel
Alves foram contratados (por valores absurdos) que o torcedor deve sair
gritando aos quatro ventos que o presidente fez a coisa certa. É preciso olhar
para os erros que sobressaem. Perdemos valor de mercado, contratamos jogadores
caros, jogadores ruins, e nem de longe temos os melhores profissionais no
clube. Tudo sob as asas do presidente.
No próximo ano, o último da gestão Leco, não me parece ser tão
animadora. O clube fechou o 2019 com um enorme déficit de mais de 180 milhões
de reais, e deve ter sua dívida ampliada com o salário estratosféricos de
alguns jogadores. Somente Pato e Daniel Alves aumentarão o rombo financeiro em
2,3 milhões de reais mensais...
Sinceramente, nesse atual cenário do time, qualquer conquista será uma
surpresa para mim. Hoje, com os nomes que temos no elenco e no comando técnico,
não consigo enxergar nada mais que outro ano sofrível para o time. Eu não
queria que o time chegasse a libertadores, mas já que chegou, torcerei. Talvez
pela nossa tradição no campeonato, possamos chegar onde nem mesmo imaginamos,
por outro lado, a tradição do tricolor ficou presa no seu passado, e somente
isso não ajudará em nada no resgate do clube, que antes de pensar em levantar
títulos, precisa levantar sua moral.
FORA LECO
Rafa Malagodi